ACI contesta sorteio de vagas para acesso à Fundação Liberato
A comunidade escolar e empresarial de nossa região foi surpreendida pelo anúncio da Fundação Liberato do cancelamento do processo seletivo vigente e substituição do mesmo por um sorteio para seleção e admissão de alunos ao ano letivo de 2021.
Há diversas considerações a serem feitas sobre esta decisão:
1. Se a preocupação for com a questão da contaminação com Covid-19, lembramos que, daqui a 20 dias, teremos uma eleição, que só em Novo Hamburgo mobilizará quase 178 mil eleitores, enquanto o processo seletivo de acesso às vagas da Fundação Liberato mobilizou cerca de 2 mil candidatos em 2019, e há diversas formas de o processo seletivo ser feito com total segurança sanitária;
2. Se a preocupação for com o desequilíbrio entre as possibilidades de acesso a alunos de escolas públicas e privadas, quem garante que a sorte vá solucionar isto? (e, hoje, com o processo baseado numa prova, 52% dos alunos não pagam, ou seja, são de baixa renda e advindos, majoritariamente, de escolas públicas);
3. A Fundação Liberato é uma referência nacional quando falamos em escola técnica devido à excelência de seus professores e, principalmente, de seus alunos, que estudam arduamente e passam por um vestibular que premia os melhores. Imaginem os atuais alunos e professores se as vagas que hoje ocupam tivessem sido definidas por uma decisão aleatória, como a que estão propondo e defendendo hoje, e eles não tivessem ocupado as vagas que fizeram por merecer, apesar de todo o seu trabalho para isto? A possibilidade que esta excelência mantenha-se com esta proposta é próxima a zero;
4. Sendo o sorteio uma solução aleatória e que, muito provavelmente, trará um significativo número de alunos despreparados para as exigências da escola e do mercado de trabalho, podemos ter dois problemas: a escola baixará seu nível de exigência e colocará profissionais com formação insuficiente no mercado (que, lembramos, já sofre com escassez de mão de obra qualificada) ou manterá sua exigência e fará com que estes alunos despreparados sejam desligados após dois anos (que é o número de repetências não-permitidas para continuidade do aluno na instituição), causando um hiato no mercado de trabalho (além de estes alunos ocuparem as vagas de quem teria esta preparação). E, nos dois casos, a credibilidade da Fundação Liberato, construída por anos de árduo trabalho e empenho de todos, se perderá;
5. Após contato com o secretário de educação, Faisal Karam, quando o mesmo informou que a decisão sobre este assunto será tomada nesta terça-feira, concluímos que a direção da Fundação Liberato comete o erro de antecipação deliberada à própria competência, uma vez que a decisão sobre modificações no sistema de seleção precisa, necessariamente, da autorização e do endosso técnico da Secretaria de Educação do Estado.
Por isto tudo, concluímos que o conhecimento jamais será substituído pela sorte como critério de seleção de candidatos para ingresso na Fundação Liberato, ou em qualquer outra instituição de ensino público, e a alegação de buscar evitar a desigualdade pode gerar efeitos colaterais muito mais nefastos.
Assim, a ACI manifesta-se publicamente contrária à mudança do processo, por considerá-la inadequada e injusta.