Biomimética e cidades inteligentes: inovando com a natureza

Por ACI: 30/08/2024

À medida que as cidades se expandem e enfrentam desafios cada vez mais complexos, a biomimética surge como uma abordagem inovadora e sustentável para a construção de cidades inteligentes. Cidades Inteligentes, por definição conceitual, são comunidades urbanas que utilizam tecnologia da informação e comunicação (TIC) para melhorar a eficiência dos serviços, a qualidade de vida dos habitantes, a sustentabilidade ambiental e a governança urbana.

Inspirando-se nas soluções que a natureza desenvolveu ao longo de bilhões de anos, a biomimética oferece estratégias eficientes e resilientes para absolutamente todos os pontos que definem uma cidade inteligente, e com inúmeras vantagens sistêmicas ao desenvolvê-las a partir de uma inovação inspirada pela natureza. Desde a gestão de recursos até a arquitetura e a mobilidade, essa ciência conecta o melhor da engenharia natural com a tecnologia, criando espaços urbanos que não apenas funcionam melhor, mas também proporcionam maior qualidade de vida. Cidades inteligentes baseadas na biomimética são capazes de se adaptar, evoluir e prosperar em harmonia com o meio ambiente.

Dessa forma, apresento aqui cinco de muitas aplicações possíveis da inspiração da natureza, a partir da metodologia da biomimética, para pensarmos inovação biomimética para cidades inteligentes:

  1. Gestão de água inspirada pela natureza

Cidades inteligentes podem se beneficiar da biomimética ao adotar soluções baseadas em como os ecossistemas naturais gerenciam a água. O exemplo dos castores, que constroem barragens para criar zonas úmidas que armazenam e purificam a água, inspirou projetos urbanos como o sistema de biorretenção. Este sistema usa jardins de chuva e áreas verdes para capturar, filtrar e armazenar a água da chuva, prevenindo enchentes e reduzindo a pressão sobre os sistemas de drenagem urbana.

  1. Arquitetura termicamente eficiente

A observação dos cupinzeiros, que mantêm temperaturas estáveis em seus ninhos, levou à criação de edifícios com ventilação natural inspirados por essas estruturas. Um exemplo notável é o Eastgate Centre em Harare, Zimbábue, que usa um sistema de ventilação passiva baseado na arquitetura dos cupinzeiros para regular a temperatura interna, reduzindo drasticamente a necessidade de ar-condicionado e o consumo de energia.

  1. Mobilidade urbana eficiente

A natureza também inspira soluções para mobilidade urbana. Estudos sobre o movimento de enxames de formigas resultaram em sistemas de tráfego inteligentes que otimizam o fluxo de veículos em grandes cidades, reduzindo congestionamentos. Esses sistemas, baseados em algoritmos que imitam a comunicação das formigas, ajustam semáforos em tempo real para melhorar a fluidez do trânsito.

  1. Infraestrutura verde inspirada por ecossistemas

A biomimética também guia o desenvolvimento de infraestruturas verdes que promovem a biodiversidade e a sustentabilidade. Por exemplo, telhados verdes inspirados por prados naturais não apenas isolam termicamente os edifícios, mas também promovem a biodiversidade urbana, oferecem espaços recreativos e ajudam a mitigar as ilhas de calor, melhorando a qualidade de vida nas cidades.

  1. Iluminação pública sustentável

Alguns organismos marinhos, como os peixes abissais, produzem luz por bioluminescência, inspirando o desenvolvimento de sistemas de iluminação pública eficientes. Pesquisadores estão explorando tecnologias que utilizam bioluminescência para criar fontes de luz mais sustentáveis, reduzindo o consumo energético nas cidades e contribuindo para a redução da poluição luminosa.

Além dessas inovações, dentre tantas possíveis, quando trazemos a natureza para a mesa de projetos, a partir do olhar da biomimética, temos, também, como potente aliado o conceito de biofilia — a conexão inata entre seres humanos e a natureza — o qual a prática é crucial para o urbanismo contemporâneo. Incorporar elementos naturais em áreas urbanas, como parques, jardins verticais e espaços verdes, promove o bem-estar físico e mental dos cidadãos. A biofilia sugere que a exposição à natureza reduz o estresse, melhora o humor e aumenta a produtividade e criatividade.

Cidades que integram a biofilia em seu planejamento urbano, além de se tornarem mais inteligentes, tornam-se também mais agradáveis e saudáveis para seus habitantes. Integrar as inovações biomiméticas em qualquer cidade, independentemente do tamanho ou localização, é possível, e real. Além disso, é importante lembrar que, diante das crescentes ameaças das mudanças climáticas, como enchentes e secas, essas inovações tornam-se ainda mais essenciais.  A biomimética, portanto, oferece, também, soluções adaptativas e resilientes que ajudam as cidades a enfrentar esses desafios, tornando os ambientes urbanos mais seguros e sustentáveis.

Por onde começar? Para que isso se torne realidade, é fundamental conectar empresas, empresários, gestores públicos e a população em geral, além de uma consultoria especializada no tema para conduzir a jornada biomimética e biofílica. A colaboração entre diferentes setores permite que ideias inovadoras sejam implementadas em larga escala, transformando a vida urbana e criando cidades preparadas para o futuro, no presente.

Importante lembrar que, em sentido amplo, um sistema "inteligente" é: aquele que tem capacidade de processar informações, tomar decisões autônomas e ajustar às mudanças do ambiente para otimizar desempenho combinando eficiência, adaptabilidade e funcionalidade para alcançar resultados de forma eficaz e inovadora. E, aí, a sua cidade já tem essa inteligência? Ao unir forças, podemos construir cidades inteligentes que resistem às adversidades e que, também, prosperam em harmonia com a natureza, tornando-se verdadeiramente o que podemos chamar de inteligentes, de cidades inteligentes.

Giane Brocco - CEO e Head de Biomimética na Amazu Biomimicry, Diretora de Inovação e Estratégia na Mercobor Indústria e Comércio de Artefatos de Borrachas, Diretora Comercial na Asha Ecobased, TEDx Speaker (4x) e Mestre em Engenharia

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