Diminuição da população contribui para queda da produtividade no RS

Por ACI: 23/08/2024

O presidente da ACI, Robinson Klein, e o diretor Fauston Saraiva participaram da reunião-almoço ‘Tá na Mesa’, promovida pela Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul) na última quarta-feira, 21, em que economista Aod Cunha alertou para diminuição da população, queda da produtividade e evasão de talentos que produzem crise no desenvolvimento do RS. Além disso, ele também defendeu unidade e foco para uma agenda comum visando mudar o futuro do estado.

O presidente da entidade, Rodrigo Sousa Costa, abriu o evento contando os casos de pequenos empresários que foram duramente afetados pelas enchentes e que estão tendo dificuldades no acesso aos recursos do governo federal. “São os responsáveis pela criação de postos de trabalho, pela segurança alimentar do RS e do Brasil e neles depositamos a esperança, pelo resgate, pela reconstrução de nosso estado. Se eles nos dizem que não estão sendo socorridos, nós temos que nos preocupar e ficar angustiados”, afirmou o presidente. 

Crise migratória

Aod Cunha iniciou a apresentação focando em explicar os motivos que fazem o RS crescer menos que nos anos 1980, sempre comparando com o estado vizinho, Santa Catarina, que demonstra os melhores números do país. Para ele, esse fenômeno se explica pela relação da baixa produtividade da mão de obra e decréscimo populacional. Cunha apresentou dados que demonstram que, “nas próximas décadas, a produtividade terá que triplicar para que cresçamos como crescemos nos últimos 20 anos”. Nos últimos anos, a população do RS decresceu 1,8%, enquanto Santa Catarina aumentou em 21,8%, por exemplo. 

No RS, praticamente todas as regiões do estado apresentaram decréscimo, enquanto somente a Serra e o Litoral Norte demonstraram crescimento. Enquanto isso, os vizinhos catarinenses apresentam aumento de população por todo o estado, com destaque para a região litorânea. “São cidades nas quais a população aumentou até 60%”, explica o economista.

A saída de gaúchos também é preocupante, segundo Aod Cunha, atingindo o número de 700 mil conterrâneos que escolheram deixar o estado, no período de 2010-2022. “O nosso maior problema é a baixíssima taxa de imigração do estado, pouquíssimas pessoas vêm para cá. É um problema porque precisamos atrair pessoas”, defendeu.

Para Cunha, a baixa taxa de imigração no Rio Grande do Sul se tornou uma das maiores preocupações demográficas para o estado. Ele alertou para a evasão de talentos, afirmando que as pessoas tendem a buscar locais onde se sintam seguras, com serviços eficientes e opções de lazer e cultura. “Precisamos ser um centro de concentração de gente boa, que produz ciência e tecnologia”, afirmou.

Gargalos

Cunha também elencou alguns importantes gargalos da sociedade gaúcha, pelos quais passa, segundo o economista, a diminuição do desenvolvimento do estado, como a dívida pública, secas e uma política de desenvolvimento mais moderna. No entanto, ele destacou que o principal gargalo é o ensino, mas sobre uma visão de futuro. “Educação não gera resultado imediato, não gera aumento de produtividade a curto prazo”, explicou.

Dados demonstrados pelo economista mostram que os indicadores de educação gaúcha vêm diminuindo desde o fim do século passado. Dados do mais recente levantamento do Ideb demonstram que o estado perdeu mais posições no ranking de avaliação da educação, com a nona colocação entre as turmas do 1º ao 5º ano, com a 11ª posição do 6º ao 9º ano e com o 10º lugar no Ensino Médio. “O Rio Grande do Sul sempre era visto no passado, até os anos 60, como um estado referência, e isso passa pela educação que era referência”, defendeu.

Reconstrução

Para Cunha, a reconstrução do estado é um processo de longo prazo, que vai além de alguns meses, podendo levar anos. Ele destacou que a suspensão do pagamento da dívida estadual, apesar de fornecer uma folga de R$ 12 bilhões, ainda não é o bastante para reconstruir a infraestrutura e outros setores essenciais. “São várias frentes que precisam ser atendidas”.

Agenda comum

Tendo em vista esses gargalos, é necessário uma unidade de agenda, defende o economista, para focar nessas pautas estratégias para o desenvolvimento do estado, “uma agenda comum”. “Os nossos desafios estão nessas partes estruturais. No momento em que tivemos uma destruição de riqueza tão grande, o estado deve se utilizar de uma mobilização para resolver problemas que já tínhamos. Não é apenas reconstruir. É construir melhor.” 

Para ele, este momento é importante para realizar essas mudanças. “É hora de fazer um futuro melhor para os nossos filhos e nossos netos. É uma escolha, é um legado. Nós precisamos ter um mínimo de capacidade de construir essa agenda, tem que ter foco, finalizou.

 

 

Receba
Novidades