Dólar em alta, taxa de juros recorde e ativos derretendo
O vice-presidente de Economia da ACI, André Momberger, comenta a alta do dólar, o aumento da taxa de juros e o derretimento dos preços dos ativos, indicadores de que as coisas não vão nada bem na economia brasileira.
Nesta quinta-feira,19, a taxa de juros futura atingiu um dos mais altos patamares dos últimos dez anos, chegando a 16,31%. É um indicativo de que a taxa terminal da Selic teria que ir a próximo de 17%. Mesmo com o aumento de 1% que o Banco Central fez esta semana, elevando-a de 11,25% para 12,25%, é grande o gap entre o que é a Selic e o que o mercado está exigindo de prêmio de risco para continuar financiando o Brasil.
Também nesta quinta-feira, o dólar chegou a 6,32 e obrigou o Banco Central a fazer um leilão para a venda da moeda à vista, o que trouxe a cotação para 6,24. O recurso é finito e, provavelmente, haverá nova reação negativa por parte do mercado. Já o Ibovespa, o principal índice de ações brasileiro, indica que os ativos estão efetivamente derretendo e voltando à faixa de 120 mil pontos.
Problema fiscal
“A causa do que está acontecendo é um grande problema fiscal que teve início no governo Dilma e continua no atual”, afirma Momberger. Para tentar ajustar as receitas às despesas, o presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, propuseram, no ano passado, uma nova regra, o arcabouço fiscal. Foi uma tentativa de obter déficit zero e, possivelmente a partir de 2026, começar a produzir superávit, diminuir a relação dívida x PIB, reduzir a taxa de juros e controlar a inflação.
“No papel, estava tudo muito bonito. No início deste ano, porém, o arcabouço fiscal começou a fazer água e já se previa que não seria cumprido. E o governo começou a negociar como tapar esse buraco, mesmo com arrecadação recorde, de R$ 89 bilhões, que é o déficit previsto para este ano”, acrescenta.
O Ministério da Fazendo sinalizou com o corte de gastos, mas após quase quatro meses anunciou, em novembro, um corte de gastos insuficiente, somado à renúncia fiscal de isenção de IR para que recebe até cinco salários mínimos, que os agentes financeiros classificaram como 'um erro colossal'.
“A partir disso, o que se nota é que o agravamento do quadro. O cenário se deteriorou nas últimas duas semanas devido a dois fatores fundamentais. De um lado, o Congresso Nacional promoveu uma desidratação significativa na proposta de Haddad. Ou seja, se os cortes já seriam pífios, com a desidratação tendem a ser ainda menores. O segundo motivo foi a entrevista dada pelo presidente Lula ao Fantástico, no último domingo, 15 de dezembro, na qual colocou mais combustível na fogueira ao reivindicar para si a condição de maior defensor da responsabilidade fiscal, afirmar que, após os esforços do governo federal em 2023 e 2024, o próximo biênio será mais positivo e dizer ser a taxa de juros a culpada pelos problemas econômicos do país, o que não corresponde à realidade’”, conclui o vice-presidente de Economia.