Em evento na ACI, especialistas de diversas áreas analisam a NR-01
As medidas a serem tomadas e os possíveis impactos nas empresas gerados pela NR-01 foram o tema central do Papo com Café, iniciativa do Comitê Jurídico, em parceria com o Comitê de Serviços, realizada hoje, dia 17, no Auditório da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Novo Hamburgo, Campo Bom, Estância Velha, Dois Irmãos e Ivoti (ACI-NH/CB/EV/DI/Ivoti). A partir de 26 de maio, todas as empresas brasileiras deverão incluir a avaliação de riscos psicossociais no processo de gestão de Segurança e Saúde no Trabalho (SST). A exigência é fruto da atualização da Norma Regulamentadora nº 01 (NR-01), promovida pelo Ministério do Trabalho e Emprego por meio da Portaria 1.419/24, de agosto de 2024. O evento foi conduzido pela advogada Izabela Lehn, vice-presidente do Comitê Jurídico.
Solange Neves, CEO da SNA Advogados e integrante do Comitê Jurídico da ACI; Fabiana Bissolotti, sócia-diretora da ConSeg e vice-presidente de Serviços da ACI; Jaqueline Mânica, palestrante especialista em flexibilidade emocional e autorresponsabilidade, psicóloga e consultora em desenvolvimento de pessoas e carreira; e Tânia Ramos Andrade, psicóloga clínica, foram as palestrantes.
Solange abriu o ciclo de palestras destacando os principais riscos psicossociais: estresse crônico (pressão constante, prazos irrealistas e sobrecarga de trabalho); assédio e conflitos (comportamentos tóxicos, discriminação e comunicação agressiva); desequilíbrio entre trabalho e vida pessoal (jornadas excessivas e invasão do tempo pessoal); e falta de reconhecimento (ausência de feedback positivo e de oportunidades de crescimento).
Ela listou ações para a gestão desses riscos: verificar a necessidade de ajuda especializada, envolver todas as partes interessadas, atribuir responsabilidades e comunicar os trabalhadores. Entre as estratégias sugeridas, estão a observação cuidadosa das atividades, o uso de pesquisas padronizadas, oficinas realizadas com moderação e uma abordagem combinada desses métodos.
"É preciso cuidado, pois há muita gente fazendo alarde para vender seus serviços. Todos esses temas já são — ou deveriam ser — recorrentes, e devem ser documentados e aplicados com calma e precisão. É importante criar um ambiente de confiança na empresa", alertou a advogada.
Solange também destacou situações que não configuram assédio moral no trabalho, como: cobrança por eficiência e metas, críticas e reclamações pontuais, aumento de volume de trabalho em períodos específicos e uso de mecanismos tecnológicos de controle. "Até más condições de trabalho não configuram assédio moral, a não ser que sejam impostas intencionalmente para prejudicar o trabalhador", complementou.
A advogada finalizou sua apresentação sugerindo que as empresas transformem essas novas conformidades em vantagem. "Atenda à legislação para evitar punições legais e, com isso, construa um ambiente positivo e de apoio em todos os níveis, destacando-se no mercado como empresa que valoriza o bem-estar", concluiu.
Em sua apresentação, Fabiana Bissolotti trouxe dados que reforçam a importância do tema. Segundo ela, o número de afastamentos do trabalho por transtornos mentais cresceu mais de 400% desde a pandemia. Só em 2024, o INSS recebeu mais de 3,5 milhões de pedidos de licença médica, sendo 472 mil por transtornos mentais. O impacto financeiro estimado foi superior a R$ 3 bilhões. Proporcionalmente, Distrito Federal, Santa Catarina e Rio Grande do Sul foram os estados mais atingidos. Entre os afastados, 64% eram mulheres, com média de 42 anos, e os principais diagnósticos foram ansiedade e depressão.
Fabiana ressaltou que os riscos psicossociais estão ligados à organização do trabalho e às interações interpessoais no ambiente laboral. Eles incluem fatores como metas excessivas, jornadas extensas, ausência de suporte, assédio moral, conflitos interpessoais, falta de liderança e de autonomia, entre outros. "Eles podem causar estresse, ansiedade, depressão e outros problemas de saúde mental", detalhou Fabiana, vice-presidente do Comitê de Serviços e diretora da ConSeg - Gestão Integrada em Saúde, Segurança e Meio Ambiente.
Definir e divulgar políticas de prevenção ao assédio, assegurar tratamento sério para todas as denúncias e promover palestras e capacitações sobre gestão do estresse e resiliência foram algumas das estratégias propostas por Fabiana para mitigar e prevenir os riscos.
Jaqueline Mânica iniciou sua apresentação lembrando que é preciso separar os problemas psicossociais causados pelo trabalho de problemas pessoais e de situações que não configuram doenças. "O estresse, por exemplo, é necessário e positivo, na dose certa. A ausência completa de estresse leva à acomodação e, por consequência, ao aumento dos riscos", explicou.
A psicóloga enfatizou que vivemos um momento de grandes transformações, que exigem das pessoas habilidades específicas. Pensamento criativo, pensamento analítico, alfabetização tecnológica, curiosidade e aprendizagem contínua, além de resiliência, flexibilidade e agilidade, são os principais atributos a serem desenvolvidos, segundo estudo do Fórum Econômico Mundial.
Empresas que valorizam e incentivam esses atributos, desde o recrutamento, são mais eficientes e atraentes para se trabalhar. "Aqueles que atuam em empresas com práticas de gestão ruins têm quase 60% mais chance de ficar estressados do que aqueles em ambientes com boas práticas", ressaltou.
Encerrando o ciclo de apresentações, a psicóloga Tânia Ramos Andrade afirmou que as reações e transtornos mentais mais frequentes relacionados aos riscos psicossociais são estresse, depressão, transtornos de ansiedade, síndrome de burnout, além de problemas cardiovasculares e imunológicos.
Sobre a depressão, Tânia explicou que uma pessoa pode apresentar episódios relacionados a fatos específicos, como o luto, sem necessariamente estar doente. "Considero o sentimento de desvalia e culpa o sintoma depressivo mais complexo e de difícil tratamento", detalhou.
Ela destacou que a promoção de um ambiente saudável e inclusivo, políticas de comunicação clara e feedback contínuo, além da valorização e reconhecimento dos colaboradores, são intervenções eficazes para mitigar esses problemas. "O objetivo do processo não é avaliar a saúde mental de cada trabalhador individualmente, mas verificar as condições em que as atividades de trabalho são realizadas, identificar fatores que possam gerar doenças e implementar medidas de prevenção", finalizou.
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