Quem é Fritjof Capra e o que ele pensa a respeito de inovações
Fritjof Capra é sem dúvida nenhuma, um dos maiores expoentes pensadores dos nossos tempos. Destaca-se por ser um físico de renome internacional, sendo igualmente um dos mais combativos defensores e propagadores das questões da sustentabilidade da humanidade. Ele tem uma inovadora e inédita forma de olhar para o mundo em que vivemos. Seus pensamentos e colocações têm um papel essencial quando falamos em inovações, como veremos do desenvolvimento deste texto.
Avançando no nosso tema, podemos colocar igualmente que, pessoas fortemente ligadas e profundamente vivenciadoras do tema “Inovação”, são aquelas que, ao terem algo relacionado a este tema, de modo materializado e em frente aos seus olhos, ou ao estarem percebendo e identificando, não somente pela sua visão, mas também pelos seus demais órgãos dos sentidos, algo inédito, agem de modo direcionado a este conceito/visão, pois acreditam e têm a convicção de serem as inovações, algo que é, tanto tangível como perceptível e materializável, e mais ainda, ela pode se apresentar também como um conceito que é ou ainda está sendo estruturado pelo cérebro das pessoas. Esta percepção faz estas pessoas também pensarem que este inédito avanço, que foi antevisto, tem a capacidade de revolucionar a sua vida, a vida de sua organização e mais ainda, a vida da sociedade no seu todo.
O inovador é essencialmente alguém que age e lida com o ainda não conhecido e o inédito!. Para validar esta afirmação, vejamos exemplos de comportamentos inovadores de inventores que se notabilizaram e passaram para a história por suas inéditas contribuições para a humanidade:
-Santos Dumont lidou com o desconhecido e o inédito, ao construir e voar no seu 14-BIS, como o primeiro avião “mais pesado do que o ar”.
Diante deste salto inovador, podemos colocar a pergunta: De onde Santos Dumont tirou este formato estrutural para a sua máquina de voar?;
-Nikola Tesla ao desenvolver e consolidar a corrente alternada para desenvolver e construir seus motores elétricos e seus geradores de corrente alternada que jogaram “na lata do passado” os motores elétricos movidos pela corrente contínua, para os quais era necessário o uso dos antiquados eletrodos/escovas de carbono, que se desgastavam rapidamente com o uso. Motores elétricos de corrente alternada dispensam estes eletrodos e mais ainda, não tem peças sujeitas ao desgaste e ao envelhecimento rápido. As pessoas independentemente de suas atividades pessoais e profissionais, sabem do elevado desempenho dos motores de corrente alternada desenvolvidos por este incomparável inventor/inovador até hoje esquecido e ignorado pela história.
Para o cidadão comum e para a sociedade como um todo, a inovação é percebida na maioria das vezes, e é identificada como algo que representa um passo à frente e ainda não pensado, cujo resultado pelo seu uso, são ganhos tangíveis e intangíveis, tanto para toda a sociedade como para os cidadãos, imediatamente à sua apresentação e disponibilização para estas partes.
As inovações anteriormente apresentadas, e outras não citadas, que também se notabilizaram pelo seu ineditismo e avanço tecnológico geraram ou mais ainda, promoveram mudanças sociais, tecnológicas e econômicas, significativas e de grande repercussão, entre as quais está aquela considerada como a mais significativa que é a mudança de paradigmas secularmente consolidados e praticados, ou seja: De uma sociedade até agora identificada como mecanicista, cartesiana e reducionista, para uma sociedade holística, sistêmica, aberta e promotora de inovações.
Como podemos explicar o que vem a ser as expressões “cartesiana e mecanicista” e “holística e sistêmica”? Iniciamos colocando não ser fácil esta tarefa, porém este esforço esclarecedor do que são estas grandes mudanças sempre é válido e compensador, pois esta ação esclarecedora atua como um “abrir os olhos das pessoas” para o entendimento adequado e real do mundo onde vivem. Vamos lá então!
Para esta tarefa vamos nos valer do comportamento e das idéias do Pai da Aviação. Santos Dumont sabia que o seu avião “mais pesado do que o ar” necessitava ter um comportamento de um sistema: um conjunto articulado e integrado de recursos muito aperfeiçoados e relacionados funcionalmente entre si, para poder voar. Sem este sistema de recursos “aeronáuticos”, não seria possível gerar a sustentabilidade do seu avião no ar.
Estes sistemas eram:
-Sistema de gerenciamento do funcionamento/desempenho do motor do avião.
-Sistema de “dirigir” o avião, possibilitando a este, assumir rotas de vôo desejadas pelo piloto.
-Sistema de condução e manejo do 14BIS para as operações de decolagem e de aterrisagem.
Segundo Capra, citado no início deste texto, mudanças radicais e significativas como estas acontecidas e patrocinadas por Santos Dumont, (ao descartar as aeronaves baseadas no princípio do “mais leve que o ar” –os balões voadores- e ao promover a adoção de aeronaves – o 14 BIS - que incorporavam o fundamento do mais pesado do que o ar) são de velocidade crescente à medida do avançar do tempo, e deverão acontecer cada vez com maior intensidade na sociedade, nos próximos anos. Afirma enfaticamente este magnífico pensador, físico e cientista: “Podemos seguir o exemplo do inventor e cientista Leonardo Da Vinci, um pensador que via, já no século XV, os problemas sociais sempre conectados com os de natureza diferentes, ou seja, com os problemas econômicos, tecnológicos e eco-ambientais da sua época, da Vinci já se preocupava com estes problemas, sob uma visão sistêmica, pois ele sabia que estes estavam todos conectados entre si, como uma “rede de dificuldades e facilidades”.
Segundo Fritjof Capra, a ciência precisa conectar dados e fundamentos científicos e teorias, às realidades humanas, formando o que ele chama de “Rede da Vida”. Estruturas em Rede são portanto, o paradigma para a humanidade. Nós e o mundo que nos cerca, estamos todos conectados em forma de uma rede universal. Famílias se estruturam por redes de relacionamentos afetivos e de humanismo. A sociedade onde vivemos e que se expande por todo planeta Terra, estrutura-se por uma grande rede de relacionamento.
Os grandes embates étnicos e ideológicos que se desenvolveram ao longo da história do nosso planeta, têm como estruturas que os sistematizam e os sustentam, as redes de relacionamentos não somente de pessoas, mas também de conhecimentos !.
Redes inter e transpessoais são cada vez mais percebidas no mundo em que vivemos. Um exemplo da negação dessa nova forma de olhar o ambiente que nos envolve, é o aumento das catástrofes ambientais que acontecem por todo o nosso planeta. De igual modo esta falta de uma visão “redial”, nos leva também ao modo e comportamento não sistêmico de entender o ambiente onde estamos inseridos e vivemos. Esta falta de visão sistêmica generalizada é fatal para a sociedade e para nós pessoalmente, pois esta forma de pensar torna-se gradativamente um fator castrador da nossa capacidade de desenvolver uma mente criativa e condutora para a geração de inovações.
Mentes cartesianas e reducionistas não são promotoras da criatividade e da inovação!.
As estruturas em rede já foram apresentadas em textos anteriores, identificando-as como um fator essencial que dá sustentabilidade plena às inovações geradas pois elas envolvem as cinco dimensões funcionais desta, ou seja, as inovações estão voltadas às dimensões, política, econômica, social, tecnológica e eco-ambiental. Estas dimensões estruturadas como uma rede, são os fatores viabilizadores do processo inovador tanto pessoal como organizacional.
Mesmo com todas as observações já apresentadas anteriormente não é demasia colocar ser o efeito estufa e o aquecimento global os principais fatores responsáveis pelas catástrofes ambientais que se avolumam e se agigantam dia-a-dia.
Este indesejado caminho ambiental está relacionado ao comportamento individualista das pessoas, de grupos de pessoas e de nações, que continuam negando e desprezando Estruturas Rediais (em forma de redes de relacionamentos e de comportamento sistêmico) que a sociedade deve estruturar, praticar e fortalecer, afirma Fritjof Capra.
2-A emergência de uma nova era de poder para inovar e mudar as organizações e a sociedade.
Fritjof Capra chama a atenção de toda a Humanidade, para a existência e a compreensão do que ele denomina de “Ponto de Mutação”, ou, “ponto de mudança”, como um guia e como um referencial, de adoção obrigatória e irreversível o qual define um novo e inédito –inovador- direcionamento comportamental para as organizações, para a sociedade e para os indivíduos, identificando este inédito e radical rumo para a humanidade, por estar este baseado no pensamento sistêmico e inovador de soluções, que as estruturas em rede proporcionam.
As Inovações inerentes e desenvolvidas pelas estruturas em rede, e o seu poder organizacional de mudanças competitivas das organizações, resulta das conexões que os sistemas rediais desenvolvem e aperfeiçoam. Estruturas organizacionais em forma de redes, são a fonte de inovações do poder competitivo das organizações que os adotam. Este poder competitivo passa então a se manifestar pela geração de inovações tanto organizacionais, como de produtos e serviços oferecidos aos mercados.
Fritjof Capra é enfático ao afirmar: O poder inovador das organizações não é mais promovido por processos hierárquicos e por processos de “subir na escada do poder da organização”, mas sim, vem da quantidade de conexões entre as pessoas, da rede de contatos e das relações desenvolvidas pelo andar e avanço tanto da vida organizacional, como da vida da sociedade e dos mercados onde as organizações se inserem.
Coloca Capra avançando em suas considerações, que, “uma das mais poderosas generalizações promovida pela biologia foi a célula”. Esta condição representa um novo realinhamento científico que permitiu aos biólogos compreender a estrutura do corpo humano, da hereditariedade, da fertilização, do desenvolvimento e diferenciação da evolução e de muitas outras características da vida estruturada em redes.
O termo “célula” foi desenvolvido por Robert Hooke no século XVII para descrever as variadas e minúsculas estruturas rediais e celulares estruturadoras dos seres vivos, entre os quais estão também os humanos. Para observar estas estruturas moleculares, foi desenvolvido um instrumento essencial para acompanhar os avanço na biologia: o microscópio!. O microscópio foi a inovação “puxada” pela necessidade de estudar adequadamente como funciona o corpo humano.
Todas estas considerações e descobertas no campo da biologia podem ser perfeitamente aplicáveis às organizações, independentemente de suas atividades econômicas!.
Assim colocado, podemos afirmar que as organizações, tanto geradoras de produtos como as de serviços, devem necessária e estrategicamente estruturar-se como um sistema redial –estruturado como uma redes- para desenvolver uma capacidade invulgar e altamente competitiva das suas ações nos seus mercados. Esta competitividade estende-se igualmente aos seus produtos e serviços disponibilizados para seus mercados e para os consumidores.
Surge então a pergunta:
Mesmo feitas estas considerações, fica ainda a pergunta: Que outros ganhos e vantagens têm as organizações que se estruturam conforme o anteriormente descrito?
Para dar esta resposta, vamos nos valer mais uma vez das colocações apresentadas por Fritjof Capra e de interpretações de suas colocações.
Segundo ele, a humanidade está saindo de uma sociedade de máquinas para entrar em um sistema de rede, um sistema conectado. As empresas e organizações sociais estão começando a entender que um trabalho mais positivo é aquele que conecta pessoas, uma ligação constante entre sociedade civil, governo e organizações, os mercados, os consumidores, na busca da evolução organizacional e na busca crescente do aperfeiçoamento de suas capacidades competitivas .
Destaca também este físico que o que o “poder das redes sociais” é notável, pela disseminação rápida de informações”. Avança ainda mais o notável cientista: "O desafio ainda é como colocar a sustentabilidade nas redes sociais". Para ele, a sustentabilidade não é uma propriedade individual, mas uma teia que envolve toda a comunidade. As organizações para se inovarem e injetar continuamente “inéditas doses de competitividade”, necessitam alinhar-se com os comportamentos destas redes sociais
Avançando ainda mais nas suas colocações sobre sustentabilidade, Capra é enfático e objetivo ao destacar, que só existirão cidades sustentáveis quando acontecer a fusão entre as questões ecológicas e a participação democrática. Ele avança e é incisivo ao colocar "Falta uma comunicação ainda mais interligada no mundo todo".
Como um passo a mais, ele afirma que “Para ele, o ambiente dos negócios deve aumentar espaços para os debates sobre essa nova era que se consolida, e a sociedade deve entender que a mudança acontece, nesse novo conceito, por meio de conexões e links entre as pessoas.
Avançando ainda mais, Capra também alerta e é “duro” quando afirma: Só é possível construir um futuro sustentável se houver conhecimento e tecnologia.
Todas estes fundamentos de sustentabilidade desenvolvidos por este físico adequam-se perfeitamente às organizações voltadas à geração de produtos e serviços, como as quais estamos acostumados a lidar.
A produção de bens por estruturas produtivas baseadas em redes é uma necessidade vital para a continuidade da sustentabilidade plena das organizações manufatureiras.
As estruturas de produção de bens, baseados em redes de operação estruturam sistemas produtivos fundamentados no princípio da na simultaneidade operacional, os quais manifestam a sua capacidade de sustentabilidade, pela redução significativa dos Tempos dos Ciclos Operacionais, para a geração de produtos.
A figura que segue apresenta um Sistema de Produção Simultânea por Redes de Operações, onde chama a atenção, a “estrutura redial das operações produtivas” com a mínima alocação de tempo, ou seja, mínimos tempos de ciclos de produção, que representa a utilização minimizada de insumos essenciais de produção.
A visualização do Sistema de Produção Simultânea-SPS permite que este seja entendido como um grande Sistema Distribuído de Produção-SDP estruturado por uma Rede de Centros de Simultaneidade de Produção-CS. Estes Centros de Simultaneidade de Produção-CS, igualmente se estruturam por redes de operações.
Este sistema de produção vai ao encontro dos fundamentos de sustentabilidade propostos por Capra, pois ele representa efetivamente “Um ponto de Mutação” ou um “Ponto de Mudanças Radicais” em termos de sistemas produtivos. Toda a sua estrutura é orientada pelo fundamento de “estruturas de operações em rede e simultâneas” onde os centros de produção são totalmente conectados entre si.
Estas conexões envolvem as cinco dimensões da Sustentabilidade Plena, ou seja, a Política, a Econômica, a Social, a Tecnológica e a Eco Ambiental.
As considerações e aplicações desenvolvidas sobre estes sistemas distribuídos de operações, mostram ser possível ter-se sistemas produtivos, tanto de produtos como de serviços, altamente inovadores e flexíveis e plenamente adaptáveis e promotores contínuos da sua sustentáveis de modo pleno!
Segundo os fundamentos propostos por Capra na sua obra, a adoção de sistemas de produção baseados em rede e no fundamento operacional da simultaneidade, representam com efetividade, uma inovação que consagra e vai ao encontro das propostas deste autor, na sua obra “O Ponto de Mutação”.
Esta qualificação anteriormente referida dos sistemas de produção simultânea como uma inovação de altíssimo significado, representa um “salto quântico” em termos de avanços em sistemas produtivos. O princípio da melhoria contínua, onde o passado orienta e influencia o futuro não é aplicável quando se deseja operacionalizar e tornar efetivo Ponto de Mutação proposto por Fritjof Capra.
Avançando mais nestas considerações e análises sobre o tema em descrição, podemos voltar os nosso olhos para os recentes acontecimentos econômicos que demonstraram a inviabilidade dos sistemas produtivos baseados na linearidade e sequencialidade das operações. Dificuldades econômicas de grande monta afetaram a indústria automotiva de grandes países. Qual a causa destes eventos? A sua competitividade caiu drasticamente em função da utilização do modelo/sistema de produção linear e sequencial, onde as operações produtivas são isoladas e desconectadas uma das outras.
Nada na natureza se opera e se movimenta linearmente e sequencialmente. A natureza atua e se desenvolve a partir de estruturas em rede, onde os seus eventos estão conectados umas com os outros, formando uma grande “rede da vida”.
3-Considerações científicas sobre o fundamento Simultaneidade.
Não se pode esquecer de considerar os fatores científicos envolvidos nos sistemas operacionais baseados em redes com operações simultâneas.
A simultaneidade é uma dimensão constituinte do fundamento básico da Física, que é o Espaço-Tempo, desenvolvido por Einstein. Nas dimensões do Espaço-Tempo, está identificada a dimensão Simultaneidade.
Foi Henri Bérgson, o físico que identificou esta dimensão do Espaço-Tempo.
Isto implica dizer e colocar:
-Não há a dimensão Sequencialidade no Espaço-Tempo.
- A Sequencialidade quando se manifesta nas nossas atividades, desenvolve-se como um desperdício.
Então, quando produzimos a partir de sistemas sequenciais de produção, estamos adotando automaticamente desperdícios que se transformam em custos adicionados aos produtos e serviços produzidos, tornando estes, menos competitivos, não somente pelos seus custos que embutem desperdícios, mas também pelo alongamento dos prazos de entregas.
A regra que prevalece hoje nos mercados é o da Entrega Já!, e os sistemas produtivos baseados na simultaneidade, são os mais hábeis e qualificados para atender a estas exigências que a competitividade impõe.
A simultaneidade que cada vez mais, vai sendo descoberta pela sociedade e pelas organizações que nela atuam, representa efetivamente o Ponto de Mutação proposto por Fritjof Capra, na sua obra que leva o mesmo nome.
Não é possível ter-se um progresso com sustentabilidade plena, se os esforços da sociedade não se focarem na busca da operacionalização de redes de cooperação que buscam a simultaneidade de suas ações.
Lembre-se: Redes e Simultaneidade são a Inovação necessária e obrigatória.
Quem viver, verá!
Referência Bibliográfica: O Ponto de Mutação Autor: Fritjof Capra
Fonte: Eng. MSc. Fernando Oscar Geib